‘Temos medo
de um coração partido, mas ansiamos a todo o custo sair de casa,
abrir as asas e para longe voar, sem nos apercebermos que com isso vamos partir
o nosso próprio coração deixando metade com as pessoas que são casa num sítio
que já não nos diz muito ou que nos diz tanto ainda e levando metade connosco
para tornar um novo sítio casa e com ele, conhecer novas pessoas que vão ser
casa também – para depois andar sempre de um sítio para o outro de peito
carregado de saudade.
No entanto,
não há nada melhor que saber que se aqui me cansar de estar, lá encontrarei
casa de novo.
As pessoas
vão me receber de braços abertos e mesmo que o local já não me transmita nada e
que apesar da tristeza que o sítio possa carregar, das mágoas vividas e dos
traumas presentes, as pessoas farão dessa cidade sempre casa de novo.
Quero crer
que quando somos puxados para um sítio será para melhor, talvez seja a
esperança mesmo a última a morrer, para que mesmo nos momentos mais difíceis e
em que não conseguimos ver saída nos mantenhamos de pé no sítio que escolhemos
chamar de casa.’
“Live a life that’s worth missing out.”
Acredito que
um dos nossos principais objetivos na vida deve ser construir uma vida que
valha a pena perder. Não sou uma pessoa que carrega saudades, tal como escrevi
no último texto, mas dou por mim, nesta fase da vida, a sentir saudades de casa
– das pessoas que são casa, dos abraços que valem ouro, dos sítios que realmente
me importam, das histórias partilhadas e dos locais que serão sempre casa
apesar de tudo. Isto acaba por me mostrar que estou a construir uma vida que
vale a pena ser vivida, porque consigo finalmente sentir saudades das minhas
pessoas, saudades de fazer vida com elas, sinto que estou finalmente a chegar a
uma fase que sinto falta de não apenas viver, mas de fazer vida com eles.
Em Junho,
por arrumações e desarrumações, a prever a mudança de casa do ano (já me conformei com
estas mudanças constantes e estou a escolher aceitá-las como capítulos da vida,
mesmo com as dificuldades e dores “de crescimento” que trazem), dei por mim a
ler o primeiro texto que tive publicado em livro. Reler algo que escrevi no
secundário, há mais de cinco anos, foi impressionante. Foi como se no 12º ano, numa
altura que eu não sabia nada do que a vida me iria trazer, sem licenciatura
escolhida sequer, nem para onde ia estudar, deixasse escrita uma carta para a
Rebeca do futuro.
Com base
numa história de amor não vivida ainda, num desejo imenso de derramar algo que
nem sabia o que era, deixei escrito o meu anseio pelo mar, pela cura e por me
encontrar de novo, sem saber que pelo meio do caminho ainda me ia perder mais
do que aquilo que sentia que estava.
A sensação
de perdida na altura era apenas um desconforto de não saber o futuro, a
ansiedade do inesperado e as dores de crescimento das primeiras decisões reais
da juventude, tudo misturado com a ansiedade de casa e uma necessidade imensa
de chorar – duas de três coisas se mantém.
Como é que
tudo isto se interliga? A verdade é que quando estava no 12º ano tinha uma
necessidade enorme, avassaladora até, de voar, de sair de casa e partir para
outros mares, para outro sítio – sim, queria fugir da realidade em que vivia e,
continuo a acreditar, que era completamente válido, até porque foi o que acabei
por fazer no ano passado.
Quando me
decidi candidatar realmente à universidade e tomei os passos necessários, foi
uma decisão minha, não era aprovada ou apoiada por ambos os meus pais e isso na
altura foi um peso difícil de carregar, mas segui em frente – nem que fosse
apenas pela simples necessidade de ali sair. Quando decidi vir para Aveiro, foi igual – mas
desta vez, já tinha mais experiência de vida, já sabia das dificuldades de ser
independente, de enfrentar a vida com garra, de viver longe e já sabia lidar
com a minha solitude – desejava-a imenso – e com a solidão.
Uma tatuagem
de borboleta tem o seu misto de reações, de teorias por trás e de opiniões, mas
a minha carrega a minha vontade de voar, apesar de saber que parto o meu
coração uma e outra vez quando vou a casa e volto, entre estar uma parte de mim
aqui e outra lá, é melhor voar e viver do que estar estagnada e em dor num
sítio. Sejam borboletas!
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