recap - tudo aquilo que nunca contei verdadeiramente

Este texto foi escrito em julho do ano passado, revi, tirei e rescrevi algumas partes agora em abril, mas prometo está o mais fiel ao que estava escrito possível. face ao que quero partilhar.

Quero deixar claro que ESTA É A MINHA VERSÃO DA HISTÓRIA (em vários aspetos), como é óbvio existem várias outras pessoas envolvidas, tanto para bem como para mal. Esta é apenas a minha verdade, a minha vida e eu tenho o direito de a partilhar. 


Então, vamos lá rever o meu último ano! Falta cerca de 1 mês para o meu 23º aniversário e eu adquiri o hábito de recapitular todos os anos mesmo antes do meu aniversário, só para me manter a par da minha vida e de tudo o resto. 

O meu 22º aniversário foi passado na praia (MARAVILHOSO), numa ilha acrescento, com o meu ex-namorado. O meu desejo era mesmo passá-lo só com ele, numa ilha sem rede. E depois jantámos com os meus pais, em Faro (onde eu vivia na altura) - o que foi ótimo. Foi um aniversário triste, pois estava a ver e a viver o fim de uma relação de 4 anos e sentia o meu namorado a escapar-me por entre os dedos. 

Em setembro, acabei com ele. Foi uma noite horrível, mas estava tão orgulhosa de mim própria por me ter posto em primeiro lugar, por ter dito tudo o que tinha a dizer e por ter começado a pôr fim a uma relação que já não era boa. Este foi o início de um processo de cura que ainda está a decorrer. Nunca pensei que demorasse tanto tempo a ultrapassar alguém. Foi uma história de, no fundo quase, 9 anos com essa pessoa, e não tenho medo de dizer que ainda estou a passar por isso às vezes. De certeza que se tornou mais fácil, mas há dias em que ainda dói. Orgulho-me de o dizer porque significa que sou humana e que estou orgulhosa de estar a passar por este processo.

Tomar a decisão de acabar a relação tirou muitas possibilidades da minha vida, muitos processos que estavam a meio e planos que estavam a ser feitos, claro. E, duas semanas depois da separação, o meu chefe (na altura) chamou-me para uma reunião para me dizer que não iam renovar o meu contrato. Foi um despedimento que durou dois meses. Foi difícil.

Tive de tomar tantas decisões em menos de um mês que não fazia ideia do que estava para vir. Estou grata por ter os amigos certos à minha volta que não sabiam o que dizer ou fazer mas que me ouviram e me deram tanta coragem quando precisei. 

No início de novembro, fui ao Porto sozinha, fiquei 6 dias na casa de uma amiga, foram dias para refletir sobre a minha vida, começar a fazer novos planos e não ter medo do escuro e do novo que se avizinhava. Nesta altura, estava a enviar cerca de 50 candidaturas por dia e estava a ficar cansada. Tinha tantos caminhos que podia seguir, que não sabia o que escolher. Orei a Deus para que me desse alguma coisa e Ele disse-me para voltar para casa, Ele sabia que eu estava assustada e prometeu que me abraçaria carrregaria e cuidaria de mim durante esta fase. Há quase dois anos que não vivia com os meus pais, as chaves da casa deles estavam numa caixa guardadas sem ser usadas à meses, tinha o meu próprio espaço, um apartamento praticamente só meu e tinha a minha liberdade e independência, estava habituada à minha vida em Faro - era a minha vida de sonho, não podia pedir melhor nem desejar mais do que tinha até 18 de setembro, quando tudo começou a explodir aos pedaços. 

Fiz uma despedida de meio mês em Faro da igreja, da universidade que já não frequentava mas que ainda fazia parte da minha vida, do trabalho presencialmente, dos amigos, arrumei a minha vida e a 18 de novembro voltei para casa. Levei semanas a empacotar tudo o que já tinha levado para Faro, estilo tudo o que eu tinha, fi-lo nas calmas, não me quis apressar a despedir do meu espaço - colocar as minhas coisas e tudo o que tinha conquistado na altura foram dois processos distintos mas que andaram de mão dada - como se enquanto arrumava livros, coisas de casa e cozinha e tudo mais ia arrumando a minha cabeça e me despedindo, fazendo o luto da minha vida que acabava naquele momento. 

O plano: ficar em Lagos até fevereiro. Queria ficar no máximo quatro meses, Aliás, dei-me quatro meses para orientar a minha vida - coloquei-me essa pressão como incentivo de procurar algo mais, reconstruir-me e reencontrar o que tinha perdido. Tinha dois planos e nenhum se concretizou.

Na véspera de Ano Novo, foi a mudança final para o novo apartamento com os meus pais, empacotei todas as minhas coisas de novo e em pleno 31 de dezembro foi quando tudo o resto começou a desmoronar. Passámos a véspera de Ano Novo com família e, durante o fogo de artifício, nunca me senti tão sozinha. Sentia falta do meu ex, que estava a míseros dois metros de mim (loucura), sentia falta da minha vida antiga, sentia falta do meu trabalho e só de pensar em 2023 queria chorar - a minha vida deu uma volta de 180 graus e eu não estava preparada para o resto que estava para vir! Desejei ao ver os fogos que 2024 me trouxesse reconstrução, me trouxesse paz e calma. Esperava que 2024 fosse ser tudo o que 2023 não foi. E, caramba, se me enganei!

A 12 de janeiro, voei para Barcelona - que era uma das possibilidades de mudança. Fiz uma viagem de 8 dias sozinha, na proteção de Deus e o resto das minhas poupanças, esperando apenas o melhor. Subi a Montserrat de mini saia e vans, fiz várias promessas a mim própria durante aquela subida de duas horas a pico e de escadas e prometi a mim própria que me ia aproximar muito de Deus este ano. Digo-vos desde já, no início foi muito fácil, era fácil incluir na rotina, era fácil voltar à igreja e procurar esse relacionamento, mas depois essa relação, essa aproximação parou (tenho humildade para ser transparente - algo que tenho trabalhado muito).

Regressei de Barcelona, verdadeiramente feliz, desejando o melhor para a vida e querendo verdadeiramente mudar a minha vida! Escrevi os meus objetivos para o ano, fiz o mood board e revi toda a minha vida. Retomei velhos hábitos como a escrita e a dança, comecei a correr e retomei projetos antigos, como o meu livro sobre o meu primeiro amor e o meu blog (este amigo aqui). 

No início de fevereiro, primeira viagem de escrita e, oh boy, escrevi tanto! Fui para Coimbra, com um computador que fiquei sem bateria a meio caminho e me tinha esquecido do carregador, tinha o telemóvel, um caderno e um livro. Escrevi cerca de 55 páginas à mão. Até comecei a escrever outro livro - um romance. Uma velha ideia para um livro do verão de 2023 que estava no fundo da minha mente e da qual me lembrei sem mais nem menos. Em meados de fevereiro, comecei um Hard Challenge de 50 dias, precisava de ordem, rotina e disciplina em todos os aspetos e estava tudo a correr bem até que a possibilidade de separação chegou. 

No final de fevereiro, o casamento dos meus pais explodiu. A minha mente voltou a sucumbir à ansiedade e às insónias, e voltei a tomar comprimidos para conseguir dormir à noite. Todos os hábitos que eu estava a construir foram reprimidos, entrei em modo sobrevivência e eu sentia que o meu coração se partia um pouco mais todos os dias. Estava na realidade a viver uma realidade paralela, não me sentia sequer no meu próprio corpo. 

A 10 de março, a minha mãe mudou-se e começou o “vou para casa da mãe”. Estou muito grata pelo apoio da minha família durante estes meses. Apesar de algumas pessoas terem trazido mais mágoa e dor com palavras e ações, outras realmente se aproximaram e abraçaram-me incondicionalmente com amor e apoio. Durante estas semanas, os dias passavam como se não existissem, eu estava apenas a sobreviver. Houve muita mágoa, raiva e lágrimas. A meio do caminho, apercebi-me de que tinha interrompido novamente a minha viagem para me curar de tudo o que tinha acontecido e comecei a fazer malabarismos para conseguir lidar com tudo - a separação, não conseguir trabalho e o divórcio dos meus pais.

Com calma, mas lentamente, comecei a construir a minha rotina de novo - escrever, correr, livro, blog, cantar e amar-me - os dias foram-se fundindo entre escrita e corrida basicamente. Nesta altura, a procura de emprego não estava a acontecer, para ser sincera, estava cansada de enviar tantas candidaturas e não receber qualquer resposta. O pior não eram as respostas negativas, eram as nãos respostas (mas isto é tema para outra hora, em bom português são outros quinhentos). 

Em meados de abril, comecei finalmente a tirar a carta de condução e, no dia seguinte, o meu avô faleceu. O meu Chico, com 96 anos bem vividos, com oito netos e um bisneto, deixou-nos para um lugar melhor. O funeral foi difícil mas podia ter sido pior. Despedi-me de alguém que no fundo sei que adorei quando era pequenina, mas de quem as memórias são muito antigas e não me lembrava muito. Mas as histórias de amor de um avô e de uma neta continuam no meu coração. 

A 9 de maio, o divórcio dos meus pais é finalizado e eu estou a caminho de Sevilha para apanhar um avião para Maiorca para passar 5 dias com uma das minhas melhores amigas - que me carregou muito este ano. Uma viagem fantástica e descontraída, para viver uma realidade diferente de paz e calma e pôr a de casa em pausa.

No final de maio, início de junho, fiz uma viagem para visitar outra melhor amiga em Aveiro. Estivemos por Coimbra, Porto e Aveiro. Foi como se a minha vida tivesse realmente ficado em pausa nesses dias, voltei a ter apenas 22 anos e já parecia que podia lidar com as preocupações da vida depois. Mas no fundo, eu sabia que precisava de mudança, precisava sair do fundo em que estava e esse fundo tinha-se tornado Lagos, o meu querido Algarve, não me via em nenhum lugar da minha terra. Assim a meio de uma simples tarde a passear por Aveiro, no dia antes de voltar para baixo, decidi mudar-me para Aveiro. Não sentia paz sobre algo há muito tempo, agarrei-me a isso e comecei logo a procurar sítios para ficar e empregos na zona. Tinha um emprego de verão à minha espera em Lagos, por isso decidi mudar-me em setembro - neste momento em que escrevo, ainda estou a planear isso, já tenho casa e estou à espera de notícias de oportunidades de emprego. Neste momento, não estou a enviar 50 candidaturas por dia - graças a Deus -, estou a ser um pouco mais consciente. 

Em meados de junho, mudei-me (indecisamente) para casa da minha mãe e o “vou para casa da mãe” transformou-se em “vou para casa do pai”, principalmente por causa do trabalho, mas também por causa do processo de divórcio. Deixei de tomar os comprimidos para as insónias e voltei a dormir sozinha.

No início de julho, vi o meu ex-namorado e percebi que ainda não tinha terminado o processo de cura, como escrevi anteriormente nesta carta. Havia tanto, mas tanto que eu tinha de lidar e que lá, no meio da tempestade, não consegui sequer ver tudo. Sentia-me dentro de um furacão. 

Neste momento, é 18 de julho, acabou de passar a meia-noite, estou a cerca de onze horas de ir a Itália com uma melhor amiga de infância que reencontrei este ano. Vamos a Milão, Veneza, Florença e Roma - e sinto-me tão abençoada por poder fazer isto agora.

A vida ainda não me parece bem, no entanto estou em paz ao aprender que isso não faz mal e que, na verdade, a adoro. Não tenho escrito muito, o meu blogue está em stand-by outra vez e o meu romance tem cerca de 100 páginas à espera que eu volte a escrevê-lo. O trabalho é muito simples e fácil, e dá-me muita paz e sossego para pensar e planear a vida. É bom voltar a ter uma rotina. Estou de volta às corridas. Tenho feito muita praia para me despedir do Algarve. Fazer as malas de 15 em 15 dias para ir para mudar de casa não me parece bem agora, mas fazer as malas para ir para Itália ou para me mudar para outra cidade parece.

Sim, estou a passar por várias fases de luto neste momento - a minha relação de quase 4 anos, perder o meu melhor amigo, o casamento dos meus pais, o meu Chico e mais algumas coisas. Mas aprendi este ano que sou tão forte e que me consigo aguentar muito melhor do que pensava. 

Estou grata pelos meus amigos muito próximos que estiveram ao meu lado neste último ano, os que me ouviram vezes sem conta sobre tantos assuntos, eu sei que parecia um velho disco riscado, os que perguntam sobre o divórcio, os que estiveram ao meu lado (mesmo que não fisicamente) durante o funeral e os que fizeram viagens comigo com dois dias de planeamento ou quatro meses de antecedência. 

E estou grata por todos os que leram este post. Aqui está o que eu realmente quero que saibam: 

Foi um ano de treta, foi coração partido atrás de coração partido, a minha ansiedade voltou e estou a passar por um grande processo de cura, mas Deus está comigo. Sei que, apesar de honestamente não estar tão perto d'Ele como gostaria, Ele tem estado ao meu lado a cuidar de mim, da minha família e dos meus amigos. Sei que Ele está a cuidar do meu presente e do meu futuro, que me está a preparar para o futuro e que tem planos melhores do que eu alguma vez poderia imaginar. 

Aprendi que há muito mais que quero viver e que estava lá atrás, à espera dos outros, de permissão ou de opiniões, e estou farta disso. Há demasiadas coisas à minha espera.

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