Hi! Bem, não apareço aqui faz algum tempo. No ano passado,
ainda relancei o blog, postei algumas coisas que já estavam escritas e investi
imensas horas a escrever mais e programar tudo. Mas do nada tudo parou. Todos
os planos que tinha - foi tudo sanita abaixo. Na altura estava recém-desempregada
e voltei para a casa dos meus pais, o que mais tinha era tempo e o que não me
faltava era vontade de voltar a escrever, vontade de escrever é diferente,
sabem?
Mas o que aconteceu, ainda há muito para desvendar, tanto
para contar, mas neste momento precisam saber que em setembro mudei-me para
Aveiro, saí de Lagos, do Algarve, mordi a língua que dizia que não ia sair do
Algarve, acho que nunca acreditei nessas palavras, e vim pôr-me a 600km.
Aveiro é mais parecido com Lagos do que sei lá o quê, juro,
o vento, a praia a comer areia, o sol - estamos em Abril e sinto-me no Algarve
no verão, só vai durar uns dias eu sei, mas aproveita-se para uma sainha e sair
de noite com temperaturas decentes. A minha tia diz que este inverno foi bom,
que tive sorte - uma benção, já tinha mais que me preocupar do que com chuva e
frio infernal.
Aveiro, foi onde finalmente consegui voltar a respirar e viver, respirar fundo
e aproveitar um pôr do sol.
2024 foi sem dúvida o piorio, quando sai de Lagos e me mudei precisava mais de
uma mudança dentro de mim do que propriamente física, mas sabia sem dúvidas que
uma estava inevitavelmente ligada à outra.
Sabia que me queria mudar para um sítio parecido com Lagos,
que era casa, mas já não era. Queria encontrar casa e paz, e como se ouve e lê
em todos os livros de autoajuda que nunca me serviram de nada, não a encontrei
por mudar de cidade mas encontrei dentro de mim. Aveiro ajudou, ter novamente o
meu espaço ajudou, até beber uns copos e sair à noite ajudou - reforço que não
foi o principal, mas ajudou. Conhecer esta cidade linda, enquanto me reconhecia
a mim própria depois de tudo - sim, vamos falar disso, do tudo, mas por
enquanto não. Foram todos acontecimentos que me ajudaram, mas todo o trabalho
foi interno. Encontrar paz é apenas deixar estar e largar a raiva, o peso
morto. Apenas isso, dito parece fácil, mas não o é.
Temos de nos obrigar a fazer as coisas que sabemos que nos fazem bem - sair de
casa, mexer o corpo, trabalhar a mente, seja o que for. Eu voltei a pintar e
aos poucos voltei a escrever, tive de me obrigar e sou grata pelos que já leram
aquelas palavras carregadas de dor e vontade de viver e me felicitaram na
jornada, os que admirados com a determinação me parabenizavam sem saber que me
estavam a dar força para continuar.
Não consigo dizer exatamente em que momento encontrei paz, durante muito tempo
fingi que a tinha, isso ajudou - fake it until you make it até funciona
prometo. Fingi que Aveiro tinha sido a resposta para todos os meus problemas,
como se conseguisse fugir deles, fingi que tudo estava bem e sei que as pessoas
conseguiam perceber a minha fachada, fingi que era feliz sem me sentir em casa,
mas sem ter casa para voltar e fui fingindo.
Consigo dizer exatamente o momento em que tomei a minha vida
como minha e não deixei a raiva estar ao volante - e agora imaginamos todos o
filme das emoções com o vermelho lá na frente e os outros a fazer uma espécie
de guerra civil para tomar de volta conta da mesa cheia de botões. Chorei ao
ver o segundo filme, algo que podemos falar depois também, senti-me tão ouvida
e incluída, parecia que tinham pegado nos meus textos que nunca publiquei,
aqueles tão difíceis de escrever que não sou capaz de partilhar e tinham
transformado no filme.
Está a fazer um ano que decidi sair de Lagos, depois da separação e divórcio,
depois do falecimento do meu avô - que foi quando tudo realmente parou, parei
de escrever e de correr, voltei às insónias e à ansiedade, a única coisa que me
trazia felicidade era a praia. E até disso tive de desistir de ter a passos de
distância para me encontrar novamente.
Amadurecer é perceber que a dor vai sempre estar lá, a raiva aos poucos
desvanece, mas é ao que damos poder que nos dirige no dia a dia.
Voltei a apreciar os pequenos momentos, apercebi-me que ainda tenho muita vida
pela frente que vale a pena ser vivida. Sou algarvia, mas foi em Aveiro que
encontrei sol outra vez.
Maybe Rebeca escritora esteja de volta, quer dizer estou, mas maybe queira
voltar a partilhar mais, voltar a publicar os meus desvaneios, voltar a ter a
minha voz através da escrita. Estou cansada de estar calada, há muito,
vocês nem têm noção do quanto há e quero partilhar.
Há muito mais em partilhar, em testemunhar, do que em
sofrermos calados e sozinhos.
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