o verão antes da mudança

 Este verão disse a mim própria que o iria viver.

Prometi-me dizer que sim a todas as oportunidades.

Sabia que viriam mudanças — setembro é sempre mês disso.

Então aproveitei ao máximo: as pessoas, os lugares, o sol, a praia e o mar, as experiências, os concertos e as noitadas de jogos e gargalhadas.

 

Os verões, para mim, sempre foram super focados em trabalho. Mesmo quando estava na universidade, mesmo depois, quando fazia o estágio curricular para terminar a licenciatura — trabalhava, na altura, oito horas numa agência e outras oito no McDonald’s.

Esse verão foi tão cansativo e tão trabalhoso que só valeu a pena porque me manteve focada na decisão de manter a minha independência. Quando terminei a licenciatura, decidi sair definitivamente da casa dos meus pais e aventurar-me a ficar em Faro. Arranjei trabalho no McDonald’s para me sustentar enquanto terminava o estágio.

Esse verão, não fiz quase nada além de trabalhar. Lembro-me de ir à praia uma única vez — e estava a chover imenso, em pleno agosto. Este verão acabou por ir completamente água a baixo face ao assédio que sofri no trabalho.

Setembro chegou — e, como sempre, trouxe mudanças.

 

No verão seguinte, em 2023, estava, graciosamente, a viver sozinha e a trabalhar numa agência criativa. Fiz imensa praia sozinha, aproveitava os fins de semana para apanhar sol, escrever, ler e passar tempo com amigos, quando ia ao Barlavento.

Foi o único — e último — verão, até agora, em que senti alguma paz.

 

Em 2024, face a tudo o que tinha acontecido e ao que estava ainda a acontecer, decidi, antes do verão, que o iria aproveitar totalmente. Viajei. Fiz praia todos os dias de agosto (literalmente) — antes do trabalho, na hora de almoço e depois do trabalho. Arrastei o meu pai para concertos. Ainda conheci sem dar muita importância e sem saber ainda uma das que viria a ser uma das pessoas mais importantes em Aveiro. Festejei os meus anos pela primeira vez em muito tempo. E muito mais.

 

Fiz isto porque me apercebi de que não era apenas o meu último verão completo no Algarve durante algum tempo, mas também porque o verão sempre foi a minha altura favorita do ano — e nunca o tinha aproveitado verdadeiramente.

 

No texto “A Vida Continua”, escrevi sobre como nunca tive medo de perder algo — o famoso FOMO. No entanto, no verão passado, desenvolvi o medo necessário: o medo de não viver algo — ou seja, de perder uma oportunidade, uma aventura, algo que eu realmente quisesse viver por alguma razão, especialmente se fosse por ansiedade ou medo.

 

Esse pensamento tem-me acompanhado até hoje. Não tenho deixado que a ansiedade, seja ela momentânea ou uma previsão futura, me impeça de viver algo. Não deixo que o medo do futuro me prive de o viver.

 

Isso passou a influenciar todas as áreas da minha vida: novas amizades, as tatuagens, a escrita, os desejos e sonhos. É curioso como uma decisão tomada há quase um ano consegue ter ainda tanto impacto. E prevejo que continue a ter por muito tempo.

A forma como vivemos a vida — especialmente para aqueles de nós que lidam com ansiedade — é fundamental. E continuo a ser assertiva sobre isso. Aliás, é algo de que falo com paixão, sempre que alguém desabafa comigo sobre ansiedade: é uma decisão diária.

 

É uma decisão de continuar. Uma escolha de respirar e não perder o foco. De dar 1% mais a cada dia. De criar disciplina diante das emoções e da exaustão mental e emocional por que passamos.

A forma como vivemos é sempre uma escolha — e, quando a ansiedade bate à porta com mais força, também é uma escolha a forma como reagimos.

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