20 de setembro de 2024
Faltam cerca de 20 horas para a minha partida para Aveiro.
Dormi 3 horas, depois de praticamente fazer uma direta com amigos, a conviver e
a rir!
Acordei a chorar, a pensar no jantar surpresa de despedida
que me prepararam com todo o amor e carinho, e nas despedidas difíceis e duras
de ontem. Um choro desalmado e intenso, sem início nem fim, de dizer adeus sem
saber quando vou voltar a ver estas pessoas que são família, que me carregaram
no último ano, nos mais baixos dos baixos, que oraram pela minha vida,
trouxeram bênção e luz quando já só via abismo, me fizeram rir e me ajudaram a
voltar a ter vontade de viver.
Sei que vou passar o dia todo a chorar, com as lágrimas a
tentar rojar para fora e a libertarem-se finalmente, depois de vários meses de
planeamento e decisões importantes, em que só me permiti ser racional e não
pensar com as emoções.
Agora posso finalmente deixar-me viver este momento com tudo
o que há em mim, e enquanto arrumo todos os meus pertences para os levar para
outra ponta do país, parte do meu coraçãozinho fica aqui. No meu Algarve, com
aqueles que me viram chorar e choraram comigo, os que me fizeram rir quando só
queria desistir, os que me lembraram da beleza da vida e da Criação, e os que
não desistiram de mim e sempre me encaminharam para a Luz.
Decidi partilhar toda esta jornada — e ainda há tanto para
partilhar do último ano — porque o testemunho tem muito poder. Eu não sei o que
Ele vai fazer, mas sei o que vivi e por onde Ele me carregou, me abençoou e me
deu bênção.
Aveiro é já ali, o meu Algarve continua aqui, mas eu preciso
mesmo de ir, por mim.
13 de outubro de
2024
Já passaram três semanas.
Tenho imensas saudades de toda a gente. Mas está a começar a
parecer que estou em casa.
Estou finalmente a fazer planos para o futuro. Sinto-me
aliviada com a vida. O agora sabe-me bem. O sol está a brilhar — isso ajuda
muito. Estou a ler e a escrever novamente. E a dançar. Sinto-me viva.
É um “começar de novo” e estou tão grata por Deus me ter
dado esta realidade, esta possibilidade.
Tenho voltado a pensar muito nele. Mas está tudo bem. Não me
faz sofrer. Pelo contrário, espero que ele seja feliz e se sinta vivo também.
19 de outubro de
2024
O tempo ajuda.
E o estar longe também.
A nova realidade inunda-nos.
O dia-a-dia, a rotina, encaixam tudo.
Engolimos parte da saudade,
E choramos o resto aos pouquinhos.
Sonhamos com os amigos e a família,
Tanto acordados como a dormir.
Relembramos as memórias,
E imaginamos o que poderíamos viver.
Mas a verdade é que não podemos avançar
Se não largarmos o passado,
Perdoarmos as dores, culpas e mágoas
E deixarmos, pelo caminho de volta, os pedregulhos.
12 de maio de 2025
A jornada para Aveiro não foi fácil. Os primeiros seis meses
também não — foram cheios de mudança, reorganizar a cabeça, tomar decisões,
chatices da vida adulta, procurar trabalho e lidar com tudo. Chorei imenso nas
primeiras semanas, de saudades e de frustração por não conseguir trabalho. Mas
depois, as emoções foram acalmando.
Sabem aqueles momentos em que tudo parece encaixar no sítio,
e do nada tudo o que aconteceu parece fazer sentido? Tive dois desses momentos
nas últimas duas semanas. Um deles foi ontem, enquanto estava na praia.
Primeira vez a fazer praia a sério em Aveiro — sendo que o meu maior medo no
ano passado era acabar por escolher viver num sítio que não tivesse praia.
Percebem o quanto gosto de praia, certo?
Ainda penso duas vezes quando me perguntam porque estou em
Aveiro, porquê vir para aqui do nada só para vir trabalhar. Vim à procura de
paz. Vim à procura de uma nova casa. Aveiro já é casa há muito tempo. Teve de
ser casa. Tive de transformá-lo em casa. No entanto, a menos de um mês de ter
decidido vir viver para Aveiro, ontem, a cantar o Hino de Aveiro na praia, a
ver o pôr do sol, havia paz. Quase chorei, ao encontrar calma e casa.
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