uma noite sem um céu estrelado

 Sinto-me diferente, dispersada numa multidão que sabe lidar mais com o corpo quando eu apenas sei lidar com a mente e a alma. Sinto-me diferente, atentada a seguir um caminho que me diz tanto quanto o vazio de uma noite sem um céu estrelado.

Na verdade, acredito que as gerações mais novas priorizam mais a saúde mental, afinal somos aqueles que souberam reagir ao sofrimento que foi ser filhos de pais que nem acreditavam que tal coisa existia - o físico é visto, o mental não - como a visibilidade de algo tem tanto impacto na nossa vida. 

Sinto-me presa a uma realidade que não é bem a que quero viver, visiono algo mais para este mundo que nem consigo compreender e seria tão bom mudar alguma coisa mas contento-me em mudar nem que seja só a minha vida.

No fundo, acreditamos que as estrelas estão no céu, mesmo a milhares de kilometros de distância, mesmo quando a noite está tão escura que elas desvanecem, ainda acreditamos que elas estão lá a brilhar apenas para nós. Sendo assim, como podemos, como sociedade, não acreditar em algo que sentimos, algo que não compreendemos, não vemos mas que a todo o momento influencia a nossa vida mais do que qualquer outra coisa? Como não queremos saber mais? Como é que descobrimos o caminho à Índia mas não conseguimos descobrir os caminhos dentro da nossa própria mente?

Nunca nascemos ensinados com nada, aprendemos a andar, aprendemos a comer e a falar, aprendemos tantas coisas na escola e na universidade, mas ninguém nos consegue ensinar como lidar com a vida realmente, porque sem lidar com o que está dentro, não conseguimos lidar com o que está fora.

É por isso que às vezes gosto de sentir o frio, melhor que o calor, faz-me lembrar de quando estava tão numb que apenas o frio sentia, mesmo nas noites mais quentes de Agosto que chorava a tremer de medo do futuro. Relembra-me o vazio que um dia me abraçou e me fez sua. Relembra-me o silêncio que me assustava mas que agora amo, relembro a incerteza nos sonhos que agora carrego. O frio, a existência do calor, que me passava a incerteza, os tremores, o vazio, os pesadelos - frios que doiam -, agora ajuda-me a estar presente, com foco no hoje, ajuda-me a priorizar o agora, o que agora sinto, o que agora tenho, o que agora vejo, o que agora quero. Os tremores, pesadelos e o vazio faziam-me acreditar em um futuro igual ao presente que conhecia vazio, sem cor, sem calor e com pouca esvanecente esperança. Quando sinto o frio físico e penso no frio emocional, obrigo-me a pensar no agora, não me preocupar com o futuro, não pensar no que será nem tentar imaginar como o futuro será. O agora é o mais importante para o que há de vir, estar presente será sempre mais importante do que sonhar com o que há de vir porque o que há de vir nunca chegará se não vivermos o presente.

Os fotos de artifício no fundo tornam se uma metáfora do que é sentir tudo isto, são a explosão no meio do vazio, são o voltar a sentir e querer continuar a sentir, são a sensação de vermos a vida voltar a ter cor e calor onde apenas não existia nada. 


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